terça-feira, 19 de julho de 2011


Cedo fui espalhando, meticulosamente, pequenas lágrimas pelo caminho que me separa de ti.
É sempre mais fácil regressar.
Cada uma delas tem uma história, um momento. Por vezes tem até uma razão.
Por isso não temo que entristeça ao teu lado ou mesmo por não estar tão perto de ti.
Cada pico de tristeza serve apenas para gerar mais marcadores que me fazem regressar aos teus braços.
Mas prefiro estar aí.
Estes caminhos que fazemos, com ou sem sinais espalhados pelo chão, todos foram construídos com outros momentos, com outros amores (correspondidos ou não) e resta pouco, ou mesmo nada, de novo para amarmos só os dois.
Mas isso é que é o tesouro. Não há ouro ou pedras preciosas, mas há sempre brilho e riqueza. Sabemos reinventar os momentos que já usámos como se fossem únicos, os primeiros, impares, preciosos e raros.
Mesmo assim gosto de sentir que o meu coração se vai desintegrar quando sinto o toque da tua pele, ou que os teus suspiros suaves e prolongados me vão ensurdecer.
Por vezes deixo-te ali, no covil do alibábá, rodeada de tesouros vários, onde és a peça central e corro para a minha tristeza…
E nessas alturas, vou espalhando, meticulosamente, pequenas lágrimas pelo caminho que me separa de ti.

sexta-feira, 18 de março de 2011

A Minha Amiga Lenea

É indiferente escrever-te hoje ou mais tarde. Nunca deixarás de fazer parte dos meus amigos vivos, dos mais vivos.
Deram-me de ti as piores noticias. Quero tanto que pares de sofrer.
Nem fomos dos amigos mais frequentes. Nada disso. Fomos sempre, e apenas, amigos. Sempre disponíveis. Foste tu quem mais me puxou para o lado positivo da vida, quando insistia em estraga-la e deitar tudo a perder.
E ensinaste-me a lidar com a morte de uma forma ainda mais positiva
Quando o cancro tomou conta do teu corpo, a tua alma tornou-se enorme, e a tua sensibilidade fez de ti a salvadora dos que te amam. Sorriste e brincaste com todos.
Lembro-me de ir para a radioterapia contigo. Tremias com medo das noticias dos médicos, mas dizias na sala de espera que estavas a matar o bicho.
Sossegavas os teus, interrompias as lágrimas e largavas gargalhadas que abafavam as penas.
E tantas vezes depois, te vi, te soube, de corpo hirto e mão dada, aos que á tua volta sofriam desaires e outras chatices. Tu sempre positiva e esperançosa ralhavas aos que ameaçavam desistir.
És a maior mulher que eu conheci. Única.
E és uma mãe imensa e infinita.
Não vais, querida amiga, não vais a lado nenhum. Ficas em cada um de nós como um símbolo, um emblema que trazemos junto ao coração. Serás um estandarte que voará aos ventos em todas as romarias.
Não vou ver-te antes da tua viagem. E escrevo com lágrimas este ultimo texto. A ultima vez que estivemos juntos, ouvíamos na televisão o António Feio falar do combate dele. Não consegui evitar sentir que falava do teu. E chorei. Tu não. Tu viste ali mais um que mataria o bicho.
Acredito que irás para um sitio mais belo do que a poesia.
Aí, aqui, então ou agora, eu estarei sempre do teu lado. E sei que farás o mesmo.
Obrigado por teres dado muito da tua vida para que eu soubesse amar a minha.

domingo, 21 de março de 2010


Vira tantas vezes os seus olhos, que era deles que se lembrava sempre que uma aflição substituía a permanente alegria em que mostrava viver.
Olhos cansado pela vida dura e marcada pelas pequenas dificuldades que temperam a vida e lhe dão sentido.
Os olhos que serviam de bóia, sobretudo quando os seus disseram fraquejarem nas cores da vida e na nitidez do destino.
Os olhos são a verdadeira janela da vida. São sonda de sentimentos, de emoções. São puros, honestos, são literalmente transparentes. Quem sabe ver a vida nos olhos dos outros teme por aprender que nos seus tudo se pode ver.
E era isso que temia. Mostrar-se ao ver os sues olhos.
Como esconder o brilho da felicidade, mesmo que misturado com o negro do pânico?
Não! Não queria que quem nunca duvidou que a amava, apesar das quebras de confiança que marcaram a dor e a desilusão, não queria que sofresse. Que trouxesse lágrimas que afogassem a tranquilidade que a vida já lhe acostumara a ter.
Chegou perto dela. Mergulhou no seu olhar e com uma voz firme segredou-lhe que era feliz!
Não precisou de muito mais. Os lábios sorriram depois dos olhos. O tempo que a vida leva a percorrer já lho tinha ensinado. Talvez perdesse de vez a sua menina dos olhos frágeis, ou talvez ganhasse uma eternidade que só o amor permite.
Talvez tenha pensado que não estava preparada para aceitar tão estranha opção de vida, mas não deixou que os seus olhos o deixassem mostrar.
Há muito que o sentia.
Pegou na fé que recauchutara na celebração do dia, e decidiu acreditar que as escolhas daquela frágil semente do seu ser, seriam certas, ou pelo menos puras.
Ergueu a voz e protestou como era seu costume. Olhou de soslaio par o seu mindinho em terno momento de humor. Sim, ia vender caro o seu consentimento, ia queimar tempo do seu sono a medir a vida do futuro, mas no fundo do seu olhar ia agora mostrar um horizonte sereno e infinito onde sabia que a sua semente iria fazer crescer canteiros coloridos de suaves pétalas de amor.
Quem sabe se não teria uma outra vida para fazer correr nos carris da vida ainda na força máxima da sua?
A vida é assim, uma caminhada longa e sinuosa feita de pés descalços por cima de toda a folha, das mais verdes e fecundas, as queimadas pelo tempo transformadas em energia e seiva, ou semente e fruto.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Ciao


Dizem que se esperneia, estrebucha, e agita, pouco antes de morrer.
Há relatos de mortos, bem mortos, que atiram um esticão e se urinam pouco antes de serem devolvidos á terra.
Ainda estou ao teu lado. Vejo agonizar esta vida que percorremos juntos, por tempos.
Ainda há tempo para voltar a abrir os braços e colher a tua dor, rasgada da tua relação utópica e gravemente ferida, distante e tão presente, que te fez cortar com o amor e optar pelo conformismo.
Há tempo para percorrer de novo os campos verdes da esperança que te mostrei no amor que os outros te têm e que tanto te apavora.
Mostrar-te a ti mesma. Mostrar as tuas pétalas plenas de pólen, brilhando ao sol, servindo de escorrega a gotas de orvalho, a vergarem sobre o solo que fertilizas e engrandeces.
Sublinhar os sorrisos que desenhas nos outros, a alegria que atiras às suas pupilas.
Lembro-te paixões e amores que despertaste, momentos guardados entre barreiras, felicidade avulsa que embrulhas-te em sorrisos e laçaste de tons violeta.
Sei que soltaste lágrimas e saudades. Recordo que suspiraste medos e angústias, mas guardo a negrito as tuas vitórias e lutas ganhas, a tua perseverança e a conquista que fizeste de conhecimento e de experiência.
Sinto a tua mão estendida a segurar-me quedas, e vejo ainda os teus olhos debruçados sobre mim a levantar-me do chão, contando que há um sol por detrás de cada nuvem.
Sei caminhos de viagens que fizemos, rotas que inventámos e outras que evitámos por serem perigosas e pouco protegidas.
Espreitei pelo buraco da fechadura da tua vida, mas apenas vi que eras pura e genuinamente simples e angelical.
Certo, também vi fúrias e raivas, amuos e explosões, e nem sempre o vi fazer por bons motivos, mas sempre por emoção e dor.
Ainda estou ao teu lado.
Sei que sangras e que te faltam as energias para todas as batalhas. Vais escolhendo as que podes ganhar e matas as outras, para que se não apoderem de ti.
Mas lutas! E que importa que armas usas, se as empunhas apenas em defesa, mesmo que acabes vencida num campo de batalha que não conseguiste evitar ou contornar?
Fui vento e sombra sempre que erraste. Estive sempre perto a soprar-te para longe do abismo, e a esconder a vergonha ou a suavizar o peso da consciência que carregaste de aventura em aventura.
Tive as tuas dores de barriga nos exames da vida e nas ansiedades dos primeiros encontros. Ouvi-te duvidar de tudo e mais ainda de ti, e dei-te a certeza de que nunca ficarias só entre o deserto e o oásis.
Sinto por vezes o calor do teu corpo agarrado ao meu a segurar as emoções da vida que teimavam em esmigalhar o fôlego do prazer que amealhavas de emoção em emoção.
Liga-nos a confiança e o respeito.
Mesmo depois de pensares que o pisei e que o implodi em um qualquer laivo de loucura ou obsessão.
Estou aqui, ao lado do que resta de ti antes de esperneares o último sentimento que possas ter por mim, amor, raiva ou absoluta indiferença.
Sempre soube que as rosas tinham espinhos e faziam sofrer os mais incautos.
Sei agora que murcham, mirram e se fazem pó.
Mas, agora mesmo, quando te vejo em metamorfose, te vejo encasular e hibernar na linha da vida que queres que deixe, digo-te, grito-te, que a tua semente esta viva e vai crescer.
Um grão de pólen que hei-de levar até ao meu ocaso, até que a noite venha fechar o brilho deste sol que me mostraste um dia e colhi em forma de estrela-do-mar.
Pode ser que vejas, um dia de primavera, este grão tornado flor, a soltar as suas pétalas para além do jardim, extravasando a felicidade que aprendi contigo, mas que semeei sem ti, porque definhaste e partiste deixando o teu pó a fertilizar os passos que darei em direcção ao paraíso, ali mesmo atrás daquela montanha.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Morra a escrita


Morre a escrita quando as emoções estão vivas e efervescentes.
O Amor primeiro vive-se e depois canta-se. Quem canta antes de amar tem dor de corno!
E eu que tanto cantei pelas pautas da vida!
Sinto-me inibido, excluído.
Beijei uma libelinha e não consegui escrever mais que dois traços de pólen que lhe roubei entre suspiros.
Tenho a língua áspera, como quando comia dióspiros e me babava de mel

De tempos a tempos ponho-me a medir o tempo que o tempo tem.
Há que tempos que não o sinto voar, a fugir-me por entre os dedos. Tempos em que o despertar da paixão abafava o despertar do tempo no despertador de então!
O mesmo tempo que se tornava longo, na solidão da ausência de alguém. Imenso, infinito, insuportável, inesquecível, imparável, insano.
A cada segundo o meu coração batia duas vezes para acelerar a máquina e devolver-me o tempo da emoção.
Foi á muito tempo. Pode mesmo ter sido uns minutos atrás, ou ontem ou antes ainda.
Olho agora para os ponteiros e vejo-os a correr, para trás, lentos como tudo.
Em tudo o que o tempo parou com o seu toque. Em todas as musicas, filmes, fotos, viagens, jantares, gargalhadas, sorrisos e lágrimas, flashs fulminantes do olhar que por segundos me atirava, em todos essas unidades de tempo, vejo agora ampulhetas a esvaziarem-se de cima para baixo, como acontece com tudo o que cai e se parte.
A ausência da sua presença, marcada no mostrador electrónico da minha vida, corre, louco e em ziguezague em direcção ao futuro e escurece-se no horizonte onde o tempo é agora invernoso e negro.
Resta-me a esperança do relâmpago que fará tudo explodir e fazer-me regressar a outros tempos, onde o tempo se mede em prazer e é infinito!

Amar com Brutalidade!


Atenção que eu vou por os pés ao caminho.
Tomei a resolução!
Bato-te á porta e entro.
Antes que abras a boca, beijo-a.
Há que tempos que me apetece esmigalhar-te os lábios. Há que tempos que te quero esmigalhar o peito. Há que tempos que quero rasgar-te a roupa e esmigalhar-me em ti.
Quero cegar. Por os meus olhos nos teus e deixar de ver á volta.
Quero asfixiar, beijar-te as mamas até cair de prazer e não voltar a acordar.
Quero cimento. Quero que as minhas mão fiquem para sempre agarradas á tua cintura e rodopiar na tua vida.
Quero perder o meu viril pénis, definitivamente dentro de ti e não voltar a vê-lo.
Quero perder-te no meu abraço e não voltar a abrir os braços.
Quero dizer-te, baixinho, na tua orelha que a minha vida sem ti é uma brutalidade!

A musica das lágrimas!


Pedi emprestada ao Brasil a sua música, cheia de alegria e ritmo, para chorar!
Fui ao samba buscar os corpos de borracha para lembrar que devemos bambolear a vida e soltar o ritmo para saltar cada obstáculo, cada dificuldade.
Fui á Baía buscar a fé num futuro mais positivo cantado nas líricas de amor de Bethania, Caetano, Gil e vinicius porque a vida tem alma.
Passei na Amazónia ao som do batuque numa elegia ao natural ao puro.
Ipanema foi a passerelle da beleza, do feminino, da mulher fogo e paixão, do amor feito carne.
Elis regeu a inteligência da fascinação que a emoção tem na vida. O grito do amor. O silencio do prazer. A Oração da partilha. Upa neguinho!
Ao Rio colhi as Favelas dos sentimentos, enlatados e sobrepostos uns nos outros. Um caldeirão bombástico com explosões de flores de encanto ou com rajadas de sofrimento e dor, de magoa e sofrimento.
Pobre material, latifundiário do amor.
O interior deu-me a dureza da vida, o esforço da sobrevivência, as mãos calejadas, batidas uma na outra, em forros de celebração da vida em namoros de bailes de novas vidas construídas no sonho litoral.
Pedi emprestada ao Brasil a sua música, cheia de vida e emoção, para chorar!

Choro o labirinto da relação.
Choro a ausência da paz
Choro o sonho partido em pedaços de raiva
Choro a morte do futuro nas mãos de um presente que o passado assassinou.
Choro porque sinto.
Choro porque não tenho a capacidade de guardar tudo o que a vida me oferece.

Ao Brasil vou buscar a ultima energia.
Não deixe o samba morrer!

Esperança! (ou: Tive uma Rosa Azul Marinho que Murchou!)


Abro os braços. Estico-me até ao limite dos dedos. Pareço o Cristo Rei, sem ser rei sem merecer ser Cristo, o amado.
Não chega esta amplitude, a máxima que consigo, para colher o mundo.
È por isso também que me corre esta lágrima.
Não me chega a felicidade de incluir no meu peito, bem próximo de mim, tanto de amor, tanto de amizade tanto de sensibilidade.
Choro pelo que de tão bom está a milímetros da minha mão, e a que não chego.
Há sempre para além de nós, dos nossos braços abertos, há sempre uma história mais, uma amizade que se constrói de encontros e desencontros de partilhas e de afastamentos, de beijos e de gritos, de carícias e de palmadas, de abraços e de saudosas despedidas.
Há sempre, para além de nós, felicidade e tristeza. Há sempre pessoas que queremos ver vencer, que queremos ajudar a levantar que acompanhamos no chão, que festejamos na vitoria e que amparamos na derrota.
E em todas estas pessoas, em cada uma delas, há sempre um mundo que começa e outro que acaba.
Queria ter braços imensos, infinitos e ganhar cada uma destas pessoas, ganhar o seu amor, o veludo do seu toque, a aspereza das suas vidas e o orgasmo dos seus caminhos.

E no entanto de vez em quando vemos cair-nos do colo outras vidas que trouxemos ate ao presente mas que escolheram futuros diferentes do nosso.
Procuramos o sitio onde a nossa rede rasgou para que caíssem e não encontramos senão a ambição de ser feliz para que isso acontecesse.

Peço ajuda ao rei Cristo, com ou sem fé, mas pleno de esperança, para que a minha rede seja forte, os meus braços possantes e elásticos, para que ganhe e não perca.

Mas a verdade é que bastará dar as minhas mãos a outras mãos para que a junção de braços seja maior e abranja mais. Para que o meu mundo se junte a outros, e a minha rede seja a de todos.
Não devemos ser egoístas nem no amor nem na partilha, mesmo que os mundos estejam dentro de braços diferentes.

Aqui deixo duas mãos para que o meu mundo cresça.
Aqui deixo lágrimas por chorar para criar rios de esperança.
Aqui deixo ténues magoas de todas as mãos que se me esticaram e não vi.
E Cristo Rei da minha vida, não deixes que nenhuma mão se solte. Não queiras que nenhum mundo se separe, não deixes que o amor que sinto a cada momento seja bruscamente parado porque os meus braços são curtos e o meu esforço insuficiente.
E obrigado por cada segundo do meu passado. Pela dor do presente e pela esperança do futuro, que acaba de começar!

Perdão!


A ignorância é uma espada enfiada no cérebro!
Ignorar a dor de alguém é um acto de profunda cobardia, de magnânime ignorância!
O passado é uma lança que vem sempre na tua direcção!
E tu foste quem a lançou!
Gritaste a tua dor no profundo silêncio da solidão, enquanto estavas entretido a construir passados no meio de multidões.
Ser ignorante, mais que uma cruel verdade,
dá covardia a cada momento de afecto que ouso atirar-te,
a cada espasmo sincero do meu corpo enrolado no teu,
a cada lágrima de escroque que derramo por ti.

Escarra-me com ódio, ou pisa-me a alma, ou rasga-me de cima a baixo
Fulmina-me com os olhos, suga-me o sangue, gota a gota,
Grita, grita mais ainda…
mas não me ames ou consideres, não me faças florescer, não me hidrates, não me seives, não me perdoes…
que a ignorância de não sentir a tua dor, dói sempre que a sapiência do teu perdão,
vem como lança na direcção do meu futuro!

O Texto



Um texto não é mais que um conjunto de palavras que arrumamos.
Uns são construídos por descrição, narrativa, real ou ficcionada (e a ficção não é mais que a reconstrução de um conjunto de realidades) outros não são mais que nós próprios reescritos de varias formas e com palavras tão diversas.
Eu gosto de textos. Gosto da vida que têm dentro.
A Net é uma nova forma de escrever textos, mesmo que em conversas, mesmo que em namoros, flirts ou sérios, e guardá-los em nenhures ou numa qualquer pasta de ficheiros mentais.
Mas eu gosto mesmo de textos.

Acabo de ver morrer um texto!
De certeza que sou conhecedor de todas as palavras desse texto.
Ficou a faltar-me a sua arrumação.
Este texto que morreu, que não escrevi, e que certamente não substanciei de forma alguma, tinha, com certeza, adjectivos e emoções que tanto queria ter lido.
Tinha pequenos momentos e pensamentos grandes.
Podia até ter segredos, confidências, relatos, análises.
Mas para mim tinha esperança. Para mim tinha abertura e partilha.
Era único, era primeiro, era seiva e vida.
Mas morreu.
E com ele morreu parte da minha esperança, matou-se a minha angústia, e fiquei ferido de morte com o seu desaparecimento.
Não quer isto dizer que as palavras que tinha não possam ser arrumadas de novo e construídas de uma forma bela, não. Mas não vão ter o mesmo sentido, vão estar mais gastas.
Morreu este texto e parte da fé que eu tinha no efeito que ele teria na abertura que eu sei que traria ao meu cérebro.
Paz á sua alma.
Pelo menos para contrapor á minha!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Alma Pátria


As mãos passaram da face para o cabelo entrelaçando os dedos nos seus cabelos.
Tinham os olhos fechados. Nem uma palavra.
Os seus lábios tocaram, ao de leve os seus lábios húmidos.
Desceu as mãos até aos primeiros botões da sua blusa e descasou-os.
Uma a uma, com a precisão de um bisturi, afastou as metades da blusa e ficou com o seu peito quase nu frente ao seu.
Abraçou-a com ternura e soltou-lhe as amarras do soutien sentindo o toque mágico do encontro dos seus peitos.
Estavam numa outra dimensão.
As mãos estão agora a descer ás ancas, a afagarem as nádegas, a misturarem-se na ganga.
Deitou-se sobre o leito, em câmara lenta, fotograma a fotograma.
Beijou-a de novo, agora nos mamilos rijos que antes lhe pressionavam o peito e dificultavam a respiração.
De longe sentiu a sua respiração tornar-se mais audível e ofegante.
Os seus lábios corriam pela pele abaixo da esquerda para a direita da direita para o centro perdendo-se a contornar o umbigo.
Primeiro o fecho eclair da ganga, depois a própria ganga, desceram com o seu corpo e caíram bruscamente no chão. De onde partiram de novo os seus lábios que de pé em pé subiram pelas pernas, primeiro uma depois outra.
Sentiu que o corpo desta mulher se mexia e remexia, contornado o prazer e o alucinante prazer que esta paixão lhe provocava.
Quase nus, e ainda de olhos fechados, uniram os corpos.
Havia ainda umas cuecas para arrancar, uma cama para rebolar um amor por concluir.
De repente colocou-lhe a mão no centro do peito e chorou.
Era ali que o seu amor crescia, no coração da sua amada que batia descontrolado e crescia de intensidade.
Beijou-o uma e muitas vezes.
Segredou-lhe que a sua beleza interna não seria nunca superada pela paixão da carne e deixou que a sua mão se afogasse na sua intimidade captando gemidos cada vez mais cadenciados.
Já completamente nus penetrou a sua alma e ejaculou vida no seu útero.
Beijou-lhe agora os grossos lábios, sugou-lhe o clítoris e gritou amor em palavras.
Limparam as gostas do suor da carne, embrulharam-se em lençóis de cetim e ficaram num corpo só, dormitando sobre a fé de um futuro infinito.

Quando abriram os olhos estavam ainda deitados na relva, frente ao rio, a falar do amor impossível, do futuro finito e da impossibilidade de viajar no tempo e alterar a ordem da criação.
Magoava-os o impossível.
Lacerados viraram as costas, e gravaram nas nuvens o amor que a carne jamais saberia.
Há momentos em que as almas se divertem a brincar ás pessoas!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Orgulho


Orgulho-me de tudo o que fiz por amor, paixão ou ardor.
Tudo o resto, não fiz!
Violei códigos e convenções, segui luzes, estrelas ou cegueiras,
E nunca guiões ou cartilhas.
Vi o sol na noite e amanheci na sombra da lua
Soltei gritos de silêncio e explosivos sussurros de prazer.
Em tudo o mais não há registos ou traços!
A minha unidade é o momento. Cada um e todos.
Todos ímpares, primos, inigualáveis, únicos, meus!
Jamais construi só!
A memoria é uma miragem colectiva.
O orgulho é substantivo e nuclear.
Explode momento a momento!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tremor


Segurem-me estou inquieto
o meu sangue congelado estremeceu
gemeu e estava mudo, depois arfou
olhou para ela e sossegou
já descongelado

Estou inquieto porque o vento deixou de ser de ar
é corpo de mulher e nunca pára de invadir
de corroer, de frestas abrir, de velho e novo me fazer
e penetrar

Estou inquieto porque o tempo que era feito de segundos
pára agora uma vez por segundo e a seguir repara
no segundo anterior ao que se segue até perder as regras
e deixar de ter tempo para ser tempo: o tempo passou
a ser mulher

E ela, que nem sequer tem tempo para existir tão fundo
como eu a existo a ela sem fundo de tempo
arrancou-me todos os tampos e estou descoberto,
estou esventrado, estou esfolado e de carnes e tripas à mostra
e quero esconder-me e não consigo, porque a mulher me mostrou.

E se estou inquieto é porque apenas me interrogo
será possível encontrar paz nesta inquietude?
Sou já tão velho, não faz sentido, nada no meu corpo condiz
com o que o meu corpo sente, que não abrange muito para além
dos meus vinte anos de carne, quando a carne era fresca
e a mulher estava longe e eu me divertia a amar raparigas
belas, cheirosas e bonitas, apetitosas e catitas, enfim,
todo o contrário daquilo que agora esta inquietação traz a mim.

Por isso peço às pedras, e aos ribeiros, e às arvores
e sobretudo aos pássaros que me impeçam de voar
acho que esta inquietação pode matar e estou tão vivo
seria pleonasmo, ou no mínimo a mais estúpida contradição

É que ela é bela, e eu estou lúcido, e simplesmente inquieto,
pois assustado com o meu sangue já em lava,
com o meu coração já parvamente vulcão,
com o meu sexo já automático, logo a seguir ao estágio
na oficina onde esteve em revisão

E estou inquieto, porque a mulher está longe,
e eu perto, e o céu está debaixo dos meus pés,
e no entanto nada voa porque merda, porque crueldade,
porque tudo é tanto e tanto é tão difícil, então
socorro, alguém me ponha os pés no chão

Estou inquieto, estou aberto, estou trancado e arrombado
o vento entrou e se fez fêmea no macho que trago a tiracolo
eu que de machos nada entendo e de fêmeas nunca aprendo
o essencial que é esperar que o vento amaine, eu sobressaltado,
assaltado por amor, estripado por feridas que não mais sararão.

Estou doente, estou tão lúcido, não é que o vento me sacuda
é o sangue que me envenena já, e se eu morrer que seja lenta
a morte com que agora vejo o mundo por esta lente
que me inquieta me descongela me obriga a ao mundo inteiro abraçar
pois já parti, já sou amante, já nela me consumi, já fervo como diamante
e a mim próprio frente ao vento jurei tudo lapidar.

Por isso peço se ainda algures alguém me ouvir:
falta-me o mergulho. Tragam-me o mar.

Manuel Cintra, 9 de Julho de 2009.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Esperança


Sei que não passa de uma imagem.
O verde que o longe me mostra, é agua, apenas agua.
O seu fundo de algas a a profundidade da visão é que me constroi o verde na alma.
Aqueles que se debruçam sobre a água,numa atitude de submissão a tanta beleza, são árvores de copa baixa, verde, dobradas pelo vento. E não se fundem. Não são verdes diferentes.
Talvez por isso quando reparo nos teus olhos os não vejo reflectidos. São um outro tipo de verde.
Mas nos teus olhos vejo lagoas, maiores ainda que estas, mais profundas, mais contempladas, mais frescas e mais doces.
Nos teus olhos vejo-me de negro, fugindo de tanta esperança.
A minha esperança acaba de morrer afogada em mim.
O que a minha alma sente, dobrada sobre ti, submissa á tua vontade, é que não passas de uma distante imagem, que a minha vista pensa existir.´
Não há mais esperança no verde dos teus olhos, que a minha alma morre afoga em ti.

domingo, 7 de junho de 2009

Silêncio!


Silêncio!
Vejo pelo ecrã do televisor do metro as formigas de todos os dias a correrem de dentro para fora e de fora para dentro num frenesim louco para a tortura diária do trabalho, da tarefa, da obrigação, do social.
Em silêncio!
Vejo os carros rodarem entre si nas rotundas que fazem circular as cidades, formigas de todos os dias, de cá para lá, ou para lado nenhum, circulando apenas que parar pode ser fatal.
E fico em silêncio!
Vejo do parapeito da minha janela, aviões que aterram e outros que levantam, carregados de formigas de todos os dias, a caminho de algures ou vindo de qualquer lado, fazendo vidas distantes ansiosos de viverem por perto.
E silêncio o olhar!
Caminho nos passeios da cidade, em gincanas entre formigas de todos os dias, em contramão fugindo do cu do funil, ou correndo para a boca da corrente.
E silencio o meu choro!

Tenho saudades das alturas!
Tenho saudades dos beijos nas nuvens!
Tenho saudades das águas cristalinas que descem a montanha aos sons celestiais.
Tenho saudades dos amenos ventos que rodopiam os corpos e levam as seivas para as férteis terras longínquas.
Tenho saudade dos gritos do amor.
Tenho saudades do semicerrar dos olhos na esperança de ao abri-los tudo ser verdade!

Tenho uma ensurdecedora e gritante ansiedade de sair deste silêncio!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Intelecto


Deixa. Deixa que os meus lábios sejam suaves penas que percorrem o teu corpo como as aves fazem aos seus filhos, carregadas de ternura, carinho e amor.
Deixa.
Deixa-me humidificar o teu pescoço com lágrimas que quero sussurrar no teu ouvido.
Deixa que beije as tuas mamas, as pressione, que quero chamar-te mulher e gritar que te amo enquanto soltas tímidos suspiros que o corpo te obriga a sentir. Deixa.
Deixa o teu ventre ser colo. Deixa a minha face enrugada descansar, aí, onde a vida começa.
A minha língua desobedece-me e quer correr as curvas da tua cinta.
Sentir os teus rins a purificar.
Se deixas, percorro os lábios do teu sexo, fundo a minha alma com o teu prazer, gemo por ti no prazer do amor e na fé do orgasmo.
As minhas mãos querem empurrar as tuas nádegas contra mim.
Quero sentir-te mulher em mim e ser ideia e nunca corpo no teu espasmo.
Deixa.

Sairei de ti e farei amor contigo, escondido num recôndito lugar, para que não vejas as minhas lágrimas a saltarem-me do corpo, enquanto me castigo mecanicamente até a minha seiva saltar no tempo e castigar-me de ser velho, enrugado e seco, de ser morto antes do tempo.

Ou então não deixes. Mas mostra-me o brilho dos teus olhos. Mostra-me o traço do teu sorriso e dá-me a mão no leito final, para chegar ao destino consciente de que deixara o paraíso em ti e não na ideia do futuro que não soube desenhar para ti

Banhada Didgital!


Tenho o amor na ponta dos dedos.
Deslizo pelo seu couro cabeludo, misturando a água com o shampô e amacio o seu cabelo, tocando-lhe ao de leve nas orelhas, ou no pescoço.
Os olhos semi serrados não me enganam. Pensa em tudo o que lhe faça sorrir, menos neste momento.
Com os dedos zangados, percorro-lhe o trapézio e todos os outros músculos das costas. A gordura do gel de banho cumpre o papel de hidratante e os meus dedos, mágicos, vejo-o no ceder do seu sorriso, os meus dedos cravam-se na carne e repõem a elasticidade aos tecidos.
A água escorre-lhe pelo corpo como o seu sorriso pela minha alma.
Ali está o corpo que abriga suavidade e medo, firmeza e dor, sonho e hesitação, lucidez e erro, vontade e desilusão. Um corpo de alma inteira.
Percorro-lhe as pernas, subindo firme na força e determinação, repondo energia e colhendo vontade.
Ponho-me entre a carne e a água para deslizar no seu peito, nu de sexo e pleno de feminilidade, de instinto e de paixão.
Toco-lhe os lábios com a minha sede e acaricio-lhe o sexo num suave movimento de pura limpeza vazio de emoção.
Colamos os corpos por milésimos de segundos. Tempo de mais para que viaje para longínquas paragens de outrora.
Busco sussurros de amor que ouvira e gemidos suaves, quase mudos, que me oferecera então.
O vapor do banho turva o futuro e morrem afogados em sabão, os beijos sôfregos que guardara para o momento.
Passou-me, de repente pelo vidro que me separa da realidade, a imagem do eterno em forma de gente que ejaculo virtualmente para o seu colo.

Puxo a toalha e seco as minhas lágrimas de saudade.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


Passa o tempo, atleta de fundo, em esforço e com marcas do sofrimento dos treinos.
Mudo agora de dimensão. Regresso ao escuro do tunel sem fim.
Não belisquei um pedaço que fosse da personalidade que preservo. Mas perdi. Perdi de novo a visão da luz tenue que o Túnel me oferecia.
Não sei para onde vou, mas sei que por aí não.
Falta-me o carinho a ternura e a macieza de um beijo e abraço e suspiro...falta-me a palavra amor sussurrada entre prazeres. Falta-me o toque nas entranhas da loucura. Falta-me a felicidade proibida dos espasmos do amor. faltas-me tu que estas sempre presente e longe.
Voltaria a uma dimensão antiga se o antigo não tivesse bolor e bafiasse.

sábado, 29 de novembro de 2008


Sou único!
Indispensável!
Tão único e indispensável como todos os outros nicks que a internet trás de um mundo onde as emoções são digitais, pixeladas, deletaveis, fotoshopaveis, assexuadas, travestidas, transexuais...
Gastamos palavras no msn que não usamos na vida real.
Na realidade já não há palavras que possamos usar, pois não há mais vida que seja real.
Quero-te, não é mais que a viagem deste mundo de números para o real, e esbarra em perigos e ansiedades.
Da janela de onde espreito estas emoticonsionais vejo um ruído brutal de falsos amores e de quentes orgasmos masturbados entre as teclas o rato e a webcam.
E as vidas correm-nos como filmes, de enredos cruzados que realizamos com actores baratos e distantes, mal pagos, mas de facturas elevadas.
Sou único, ou única, consoante o interlocutor.
Mas esta vida que esboço é absolutamente dispensável.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008


Implantou-se de forma brusca, sem dor.
Tomou-me conta das cores e afectou radicalmente o meu termóstato.
Alterou-me o ritmo cardíaco e tomou posse da minha vontade.
Suou-me os dedos, as mãos, o corpo e afogou a minha alma em êxtase.
Reforçou-me os sentidos, mas exacerbou-me a saudade.
A máquina humana é hoje outra. Perdi o domínio do sono e os sonhos surgem mistificados de realidades boas demais, incríveis, e impossíveis.
Tento fundir a carne, tanto quanto a alma, e vejo o meu corpo a mutar-se em espasmos de prazer ou em dor de abstinência.
Aumenta o brilho dos meus olhos, e rasga-se a boca em permanente sorriso.
A mente brinca com o presente e desenha futuros de cores novas, que espantam qualquer arco íris.
O tempo voa. E torna-se longo e languinhento na sua ausência.
Os genes encavalitam-se na vontade de se misturar e dar corpo a estas almas fundidas.
As hormonas descontrolam-se e embaraçam.
Um beijo, um simples beijo, é, de repente, uma porta para viagens alucinantes através do espaço e do tempo.
Contraem-se os músculos num esforço de se encaixarem em outros e outros e ainda outros, em movimentos estranhos e confusos, silenciados aqui e ali, por um gemido mais fino, um suspiro mais forte ou um grito mais surdo.
O amor apodera-se de mim.

Soube agora, soube sempre, que o amor é infinito mas que morre.
Tenho câncer no amor!
Este volume todo que o meu corpo adquiriu, por ti, é benigno mas mata.
Sei que acaba, sei. Não quando, não como, mas acaba.
Não na forma mais bela que é esta que sinto sem ti.
Mas na comunhão e na partilha acaba, que o mundo também e eu certamente.
Tenho câncer no amor!
Sem datas, previsões, sem curas, ou correcções, tenho câncer no amor!

E ficarei mais morto que antes de te viver
Ficarei mais pobre que antes de me enriqueceres
Ficarei mais magro de tanto crescer
Ficarei mais só, que único.
Ficarei!

E, lá do alto, ondo moram os amores que perecem de câncer, lá do alto, farei que cresçam outros amores no tu corpo, outros genes e hormonas, calores e transpirações, ritmos cardíacos e ofegantes, farei…

Que o amor não morre, apenas se transforma.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008


O Manuel é um domador de palavras.
Faz-me pequeno, e cresço lendo-o.
Desfia relações em exercícios, e descreve emoções em figuras de choque, as que têm mais estilo.
Ouço as suas mãos tremendo pelo esforço de segurar os livros onde se guarda.
Babilónico corre o mundo connosco, de primavera em primavera, até aos Invernos de cada um, decalcados dos seus, em vegetal.
Todas as vidas têm errata, e a do Manuel está no nome, que me vez de Cintra deveria ser Sintra pelo sentimento que o s carrega.
Para as demais erratas, ele, como todos nós, lá vai comprando corrector.
Não sabemos nada um do outro…nem pensamos nisso.
Mas sei que o Manuel grita e ele sabe que eu oiço.
Não sabe o Manuel que o que escreve eu também já vivi.
Não sabe que o que eu hei-de viver, ele também já escreveu.
Não sabe que as contas dos seus rosários são gramaticais, mas que ao ser lidas se tornam matematicamente reprodutoras.
È arriscado dizer a importância do Manuel usando as suas armas. Perdemos, e perde ele pela limitação da descrição.

Manuel vive! Manuel vive muito que quero ler o que sinto!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008


Fechou os olhos. Quando os abriu era maior!
A fusão dos seus corpos, mesmo que apenas mecânica, era o principio.
Nada seria como antes. Nada.
A cumplicidade e o segredo do momento seria eterna.
Seria bóia para o ultimo reduto da vida
Manteria o que ambos tinham de melhor ate terem melhor para manter o futuro.
Como bichos fizeram a combustão dos genes. Como almas a explosão das estrelas.

Testemunharam as gotas de suor espalhadas pelo leito.
Resíduos tóxicos de amor liquido e vapores loucos de ofegante respirar.

No paraíso, sim existe, estive lá, no paraíso é assim. As águias namoram com os pintassilgos e os leões entrelaçam as patas com as lebres. Os nenúfares cobrem as margaridas e os castanheiros estão carregados de amoras.
A água desliza sobre a terra humidificando-a e fazendo brotar botões de rosa no deserto.
Os Vulcões expelem polém.
Caminha-se sobre as águas e os peixes falam do por do sol.

Algures entre isto e a realidade há um grito surdo de prazer, enroscado num peça de roupa atirada ao acaso.

Não é possível olhar em frente sem sentir que esteja lá, que o vazio é mesmo aqui!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008


Hoje sou vento.
Vou livre em frente. Os obstáculos mudam-me a direcção, mas não a meta.
Vezes sem conta que me enfureço para os contornar.
E outras que danço, rodopio á sua volta e sugo-os no meu conte.
Mas outras sou brisa e refresco.
Vejo o mundo de cima, belo como é. O feio misturo-o com as folhas das arvores. Cinzento como se mostra trago-lhe agarrada a chuva e lavo-o tentando purificá-lo.
Hoje sou vento que uiva.
Levo nas nuvens que empurro noticias do sol.
Canto nas esquinas, vergo as arvores a beijarem a terra.
E tudo isto, de ser vento, pelo gozo indescritível de esvoaçar os teus cabelos.
Levantam-se em respeito por mim e mostram a tua pele de seda, os teus olhos de mar, o teu sorriso de flor de laranjeira.
Para ti, hoje é sempre. E eu serei vento

Toquei-lhe ao de leve com o indicador. Como se fosse um sinal. Uma varinha carregada de magia.
Foi assim que senti.
Focado na intenção do toque, tardei a perceber que a energia que me percorria era de uma suavidade que só conhecera em pétalas, ou nas carícias do mar quente do indico.
Toque com toque.
Percorri suavemente, ainda mais suavemente que antes, a textura da pele escondida na ganga até sentir o calor do forno da paixão. E parei. Apenas o movimento. Corri pelas veias em louca e desenfreada sensação que me trouxe ao rosto o vermelho da cumplicidade.
Sem que olhasse, vi o bafo quente da sua alma gravar no vidro um grito de prazer amordaçado pelo impacto da ousadia.
E fugi.
Fugi para as palavras que jamais explicariam o impulso e a loucura.
Parei. Parti.

Como as aves em migração senti que podia um lar. Mas segui a viagem com medo de não ser o ambiente da espécie, ou o ninho da minha alma.

Voltando terei abrigo?
Por magia, talvez.
Espero o sinal. Um indicador. Um toque.

Sou tear.
Puxo todos os finos fios das minhas relações, estico-os, e tento entrelaçá-los em desenhos soltos e abstractos.
Por vezes tinto os tecidos que produzo, na esperança de dar cor às relações que os construíram.
Mas não passam de panos que rompem com o tempo. E perdem cor com o sol.
Tecidos que não tapam os segredos. Roupas que não cobrem as carências.
Sou, só, tear.

terça-feira, 11 de novembro de 2008


Poesia. Mas o que é, afinal a poesia?
Será chamar oceano aos teus olhos, apenas porque são verdes e brilham quando o sol lhes bate?
Será chamar de infinita à sensação de te tocar, quando apenas é suavidade e ternura o que transmitem?
Será dizer que é sopro o que a tua fala produz em mim, quando apenas me segredas amor?
Será dizer que é grito a paixão que sinto por ti, quando não passa de cegueira pela ideia de morrer a teu lado?
Será morrer a teu lado, quando o orgasmo me toma conta dos sentidos, quando é apenas química levada ao máximo da combustão?
Será chorar quando choras, sendo apenas dor o que o provoca?
Será poesia calcar as marcas dos teus passos quando apenas quero seguir-te para não estar só e vazio?
Não, amiga.
Poesia é deitar-me com a esperança de acordar, por saber que te terei, e morrer dormindo se algum dia não estiveres!
Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo.
Não.Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê

Fernando Pessoa!