terça-feira, 19 de julho de 2011


Cedo fui espalhando, meticulosamente, pequenas lágrimas pelo caminho que me separa de ti.
É sempre mais fácil regressar.
Cada uma delas tem uma história, um momento. Por vezes tem até uma razão.
Por isso não temo que entristeça ao teu lado ou mesmo por não estar tão perto de ti.
Cada pico de tristeza serve apenas para gerar mais marcadores que me fazem regressar aos teus braços.
Mas prefiro estar aí.
Estes caminhos que fazemos, com ou sem sinais espalhados pelo chão, todos foram construídos com outros momentos, com outros amores (correspondidos ou não) e resta pouco, ou mesmo nada, de novo para amarmos só os dois.
Mas isso é que é o tesouro. Não há ouro ou pedras preciosas, mas há sempre brilho e riqueza. Sabemos reinventar os momentos que já usámos como se fossem únicos, os primeiros, impares, preciosos e raros.
Mesmo assim gosto de sentir que o meu coração se vai desintegrar quando sinto o toque da tua pele, ou que os teus suspiros suaves e prolongados me vão ensurdecer.
Por vezes deixo-te ali, no covil do alibábá, rodeada de tesouros vários, onde és a peça central e corro para a minha tristeza…
E nessas alturas, vou espalhando, meticulosamente, pequenas lágrimas pelo caminho que me separa de ti.

sexta-feira, 18 de março de 2011

A Minha Amiga Lenea

É indiferente escrever-te hoje ou mais tarde. Nunca deixarás de fazer parte dos meus amigos vivos, dos mais vivos.
Deram-me de ti as piores noticias. Quero tanto que pares de sofrer.
Nem fomos dos amigos mais frequentes. Nada disso. Fomos sempre, e apenas, amigos. Sempre disponíveis. Foste tu quem mais me puxou para o lado positivo da vida, quando insistia em estraga-la e deitar tudo a perder.
E ensinaste-me a lidar com a morte de uma forma ainda mais positiva
Quando o cancro tomou conta do teu corpo, a tua alma tornou-se enorme, e a tua sensibilidade fez de ti a salvadora dos que te amam. Sorriste e brincaste com todos.
Lembro-me de ir para a radioterapia contigo. Tremias com medo das noticias dos médicos, mas dizias na sala de espera que estavas a matar o bicho.
Sossegavas os teus, interrompias as lágrimas e largavas gargalhadas que abafavam as penas.
E tantas vezes depois, te vi, te soube, de corpo hirto e mão dada, aos que á tua volta sofriam desaires e outras chatices. Tu sempre positiva e esperançosa ralhavas aos que ameaçavam desistir.
És a maior mulher que eu conheci. Única.
E és uma mãe imensa e infinita.
Não vais, querida amiga, não vais a lado nenhum. Ficas em cada um de nós como um símbolo, um emblema que trazemos junto ao coração. Serás um estandarte que voará aos ventos em todas as romarias.
Não vou ver-te antes da tua viagem. E escrevo com lágrimas este ultimo texto. A ultima vez que estivemos juntos, ouvíamos na televisão o António Feio falar do combate dele. Não consegui evitar sentir que falava do teu. E chorei. Tu não. Tu viste ali mais um que mataria o bicho.
Acredito que irás para um sitio mais belo do que a poesia.
Aí, aqui, então ou agora, eu estarei sempre do teu lado. E sei que farás o mesmo.
Obrigado por teres dado muito da tua vida para que eu soubesse amar a minha.