domingo, 7 de junho de 2009

Silêncio!


Silêncio!
Vejo pelo ecrã do televisor do metro as formigas de todos os dias a correrem de dentro para fora e de fora para dentro num frenesim louco para a tortura diária do trabalho, da tarefa, da obrigação, do social.
Em silêncio!
Vejo os carros rodarem entre si nas rotundas que fazem circular as cidades, formigas de todos os dias, de cá para lá, ou para lado nenhum, circulando apenas que parar pode ser fatal.
E fico em silêncio!
Vejo do parapeito da minha janela, aviões que aterram e outros que levantam, carregados de formigas de todos os dias, a caminho de algures ou vindo de qualquer lado, fazendo vidas distantes ansiosos de viverem por perto.
E silêncio o olhar!
Caminho nos passeios da cidade, em gincanas entre formigas de todos os dias, em contramão fugindo do cu do funil, ou correndo para a boca da corrente.
E silencio o meu choro!

Tenho saudades das alturas!
Tenho saudades dos beijos nas nuvens!
Tenho saudades das águas cristalinas que descem a montanha aos sons celestiais.
Tenho saudades dos amenos ventos que rodopiam os corpos e levam as seivas para as férteis terras longínquas.
Tenho saudade dos gritos do amor.
Tenho saudades do semicerrar dos olhos na esperança de ao abri-los tudo ser verdade!

Tenho uma ensurdecedora e gritante ansiedade de sair deste silêncio!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Intelecto


Deixa. Deixa que os meus lábios sejam suaves penas que percorrem o teu corpo como as aves fazem aos seus filhos, carregadas de ternura, carinho e amor.
Deixa.
Deixa-me humidificar o teu pescoço com lágrimas que quero sussurrar no teu ouvido.
Deixa que beije as tuas mamas, as pressione, que quero chamar-te mulher e gritar que te amo enquanto soltas tímidos suspiros que o corpo te obriga a sentir. Deixa.
Deixa o teu ventre ser colo. Deixa a minha face enrugada descansar, aí, onde a vida começa.
A minha língua desobedece-me e quer correr as curvas da tua cinta.
Sentir os teus rins a purificar.
Se deixas, percorro os lábios do teu sexo, fundo a minha alma com o teu prazer, gemo por ti no prazer do amor e na fé do orgasmo.
As minhas mãos querem empurrar as tuas nádegas contra mim.
Quero sentir-te mulher em mim e ser ideia e nunca corpo no teu espasmo.
Deixa.

Sairei de ti e farei amor contigo, escondido num recôndito lugar, para que não vejas as minhas lágrimas a saltarem-me do corpo, enquanto me castigo mecanicamente até a minha seiva saltar no tempo e castigar-me de ser velho, enrugado e seco, de ser morto antes do tempo.

Ou então não deixes. Mas mostra-me o brilho dos teus olhos. Mostra-me o traço do teu sorriso e dá-me a mão no leito final, para chegar ao destino consciente de que deixara o paraíso em ti e não na ideia do futuro que não soube desenhar para ti

Banhada Didgital!


Tenho o amor na ponta dos dedos.
Deslizo pelo seu couro cabeludo, misturando a água com o shampô e amacio o seu cabelo, tocando-lhe ao de leve nas orelhas, ou no pescoço.
Os olhos semi serrados não me enganam. Pensa em tudo o que lhe faça sorrir, menos neste momento.
Com os dedos zangados, percorro-lhe o trapézio e todos os outros músculos das costas. A gordura do gel de banho cumpre o papel de hidratante e os meus dedos, mágicos, vejo-o no ceder do seu sorriso, os meus dedos cravam-se na carne e repõem a elasticidade aos tecidos.
A água escorre-lhe pelo corpo como o seu sorriso pela minha alma.
Ali está o corpo que abriga suavidade e medo, firmeza e dor, sonho e hesitação, lucidez e erro, vontade e desilusão. Um corpo de alma inteira.
Percorro-lhe as pernas, subindo firme na força e determinação, repondo energia e colhendo vontade.
Ponho-me entre a carne e a água para deslizar no seu peito, nu de sexo e pleno de feminilidade, de instinto e de paixão.
Toco-lhe os lábios com a minha sede e acaricio-lhe o sexo num suave movimento de pura limpeza vazio de emoção.
Colamos os corpos por milésimos de segundos. Tempo de mais para que viaje para longínquas paragens de outrora.
Busco sussurros de amor que ouvira e gemidos suaves, quase mudos, que me oferecera então.
O vapor do banho turva o futuro e morrem afogados em sabão, os beijos sôfregos que guardara para o momento.
Passou-me, de repente pelo vidro que me separa da realidade, a imagem do eterno em forma de gente que ejaculo virtualmente para o seu colo.

Puxo a toalha e seco as minhas lágrimas de saudade.