terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Morra a escrita


Morre a escrita quando as emoções estão vivas e efervescentes.
O Amor primeiro vive-se e depois canta-se. Quem canta antes de amar tem dor de corno!
E eu que tanto cantei pelas pautas da vida!
Sinto-me inibido, excluído.
Beijei uma libelinha e não consegui escrever mais que dois traços de pólen que lhe roubei entre suspiros.
Tenho a língua áspera, como quando comia dióspiros e me babava de mel

De tempos a tempos ponho-me a medir o tempo que o tempo tem.
Há que tempos que não o sinto voar, a fugir-me por entre os dedos. Tempos em que o despertar da paixão abafava o despertar do tempo no despertador de então!
O mesmo tempo que se tornava longo, na solidão da ausência de alguém. Imenso, infinito, insuportável, inesquecível, imparável, insano.
A cada segundo o meu coração batia duas vezes para acelerar a máquina e devolver-me o tempo da emoção.
Foi á muito tempo. Pode mesmo ter sido uns minutos atrás, ou ontem ou antes ainda.
Olho agora para os ponteiros e vejo-os a correr, para trás, lentos como tudo.
Em tudo o que o tempo parou com o seu toque. Em todas as musicas, filmes, fotos, viagens, jantares, gargalhadas, sorrisos e lágrimas, flashs fulminantes do olhar que por segundos me atirava, em todos essas unidades de tempo, vejo agora ampulhetas a esvaziarem-se de cima para baixo, como acontece com tudo o que cai e se parte.
A ausência da sua presença, marcada no mostrador electrónico da minha vida, corre, louco e em ziguezague em direcção ao futuro e escurece-se no horizonte onde o tempo é agora invernoso e negro.
Resta-me a esperança do relâmpago que fará tudo explodir e fazer-me regressar a outros tempos, onde o tempo se mede em prazer e é infinito!

Amar com Brutalidade!


Atenção que eu vou por os pés ao caminho.
Tomei a resolução!
Bato-te á porta e entro.
Antes que abras a boca, beijo-a.
Há que tempos que me apetece esmigalhar-te os lábios. Há que tempos que te quero esmigalhar o peito. Há que tempos que quero rasgar-te a roupa e esmigalhar-me em ti.
Quero cegar. Por os meus olhos nos teus e deixar de ver á volta.
Quero asfixiar, beijar-te as mamas até cair de prazer e não voltar a acordar.
Quero cimento. Quero que as minhas mão fiquem para sempre agarradas á tua cintura e rodopiar na tua vida.
Quero perder o meu viril pénis, definitivamente dentro de ti e não voltar a vê-lo.
Quero perder-te no meu abraço e não voltar a abrir os braços.
Quero dizer-te, baixinho, na tua orelha que a minha vida sem ti é uma brutalidade!

A musica das lágrimas!


Pedi emprestada ao Brasil a sua música, cheia de alegria e ritmo, para chorar!
Fui ao samba buscar os corpos de borracha para lembrar que devemos bambolear a vida e soltar o ritmo para saltar cada obstáculo, cada dificuldade.
Fui á Baía buscar a fé num futuro mais positivo cantado nas líricas de amor de Bethania, Caetano, Gil e vinicius porque a vida tem alma.
Passei na Amazónia ao som do batuque numa elegia ao natural ao puro.
Ipanema foi a passerelle da beleza, do feminino, da mulher fogo e paixão, do amor feito carne.
Elis regeu a inteligência da fascinação que a emoção tem na vida. O grito do amor. O silencio do prazer. A Oração da partilha. Upa neguinho!
Ao Rio colhi as Favelas dos sentimentos, enlatados e sobrepostos uns nos outros. Um caldeirão bombástico com explosões de flores de encanto ou com rajadas de sofrimento e dor, de magoa e sofrimento.
Pobre material, latifundiário do amor.
O interior deu-me a dureza da vida, o esforço da sobrevivência, as mãos calejadas, batidas uma na outra, em forros de celebração da vida em namoros de bailes de novas vidas construídas no sonho litoral.
Pedi emprestada ao Brasil a sua música, cheia de vida e emoção, para chorar!

Choro o labirinto da relação.
Choro a ausência da paz
Choro o sonho partido em pedaços de raiva
Choro a morte do futuro nas mãos de um presente que o passado assassinou.
Choro porque sinto.
Choro porque não tenho a capacidade de guardar tudo o que a vida me oferece.

Ao Brasil vou buscar a ultima energia.
Não deixe o samba morrer!

Esperança! (ou: Tive uma Rosa Azul Marinho que Murchou!)


Abro os braços. Estico-me até ao limite dos dedos. Pareço o Cristo Rei, sem ser rei sem merecer ser Cristo, o amado.
Não chega esta amplitude, a máxima que consigo, para colher o mundo.
È por isso também que me corre esta lágrima.
Não me chega a felicidade de incluir no meu peito, bem próximo de mim, tanto de amor, tanto de amizade tanto de sensibilidade.
Choro pelo que de tão bom está a milímetros da minha mão, e a que não chego.
Há sempre para além de nós, dos nossos braços abertos, há sempre uma história mais, uma amizade que se constrói de encontros e desencontros de partilhas e de afastamentos, de beijos e de gritos, de carícias e de palmadas, de abraços e de saudosas despedidas.
Há sempre, para além de nós, felicidade e tristeza. Há sempre pessoas que queremos ver vencer, que queremos ajudar a levantar que acompanhamos no chão, que festejamos na vitoria e que amparamos na derrota.
E em todas estas pessoas, em cada uma delas, há sempre um mundo que começa e outro que acaba.
Queria ter braços imensos, infinitos e ganhar cada uma destas pessoas, ganhar o seu amor, o veludo do seu toque, a aspereza das suas vidas e o orgasmo dos seus caminhos.

E no entanto de vez em quando vemos cair-nos do colo outras vidas que trouxemos ate ao presente mas que escolheram futuros diferentes do nosso.
Procuramos o sitio onde a nossa rede rasgou para que caíssem e não encontramos senão a ambição de ser feliz para que isso acontecesse.

Peço ajuda ao rei Cristo, com ou sem fé, mas pleno de esperança, para que a minha rede seja forte, os meus braços possantes e elásticos, para que ganhe e não perca.

Mas a verdade é que bastará dar as minhas mãos a outras mãos para que a junção de braços seja maior e abranja mais. Para que o meu mundo se junte a outros, e a minha rede seja a de todos.
Não devemos ser egoístas nem no amor nem na partilha, mesmo que os mundos estejam dentro de braços diferentes.

Aqui deixo duas mãos para que o meu mundo cresça.
Aqui deixo lágrimas por chorar para criar rios de esperança.
Aqui deixo ténues magoas de todas as mãos que se me esticaram e não vi.
E Cristo Rei da minha vida, não deixes que nenhuma mão se solte. Não queiras que nenhum mundo se separe, não deixes que o amor que sinto a cada momento seja bruscamente parado porque os meus braços são curtos e o meu esforço insuficiente.
E obrigado por cada segundo do meu passado. Pela dor do presente e pela esperança do futuro, que acaba de começar!

Perdão!


A ignorância é uma espada enfiada no cérebro!
Ignorar a dor de alguém é um acto de profunda cobardia, de magnânime ignorância!
O passado é uma lança que vem sempre na tua direcção!
E tu foste quem a lançou!
Gritaste a tua dor no profundo silêncio da solidão, enquanto estavas entretido a construir passados no meio de multidões.
Ser ignorante, mais que uma cruel verdade,
dá covardia a cada momento de afecto que ouso atirar-te,
a cada espasmo sincero do meu corpo enrolado no teu,
a cada lágrima de escroque que derramo por ti.

Escarra-me com ódio, ou pisa-me a alma, ou rasga-me de cima a baixo
Fulmina-me com os olhos, suga-me o sangue, gota a gota,
Grita, grita mais ainda…
mas não me ames ou consideres, não me faças florescer, não me hidrates, não me seives, não me perdoes…
que a ignorância de não sentir a tua dor, dói sempre que a sapiência do teu perdão,
vem como lança na direcção do meu futuro!

O Texto



Um texto não é mais que um conjunto de palavras que arrumamos.
Uns são construídos por descrição, narrativa, real ou ficcionada (e a ficção não é mais que a reconstrução de um conjunto de realidades) outros não são mais que nós próprios reescritos de varias formas e com palavras tão diversas.
Eu gosto de textos. Gosto da vida que têm dentro.
A Net é uma nova forma de escrever textos, mesmo que em conversas, mesmo que em namoros, flirts ou sérios, e guardá-los em nenhures ou numa qualquer pasta de ficheiros mentais.
Mas eu gosto mesmo de textos.

Acabo de ver morrer um texto!
De certeza que sou conhecedor de todas as palavras desse texto.
Ficou a faltar-me a sua arrumação.
Este texto que morreu, que não escrevi, e que certamente não substanciei de forma alguma, tinha, com certeza, adjectivos e emoções que tanto queria ter lido.
Tinha pequenos momentos e pensamentos grandes.
Podia até ter segredos, confidências, relatos, análises.
Mas para mim tinha esperança. Para mim tinha abertura e partilha.
Era único, era primeiro, era seiva e vida.
Mas morreu.
E com ele morreu parte da minha esperança, matou-se a minha angústia, e fiquei ferido de morte com o seu desaparecimento.
Não quer isto dizer que as palavras que tinha não possam ser arrumadas de novo e construídas de uma forma bela, não. Mas não vão ter o mesmo sentido, vão estar mais gastas.
Morreu este texto e parte da fé que eu tinha no efeito que ele teria na abertura que eu sei que traria ao meu cérebro.
Paz á sua alma.
Pelo menos para contrapor á minha!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Alma Pátria


As mãos passaram da face para o cabelo entrelaçando os dedos nos seus cabelos.
Tinham os olhos fechados. Nem uma palavra.
Os seus lábios tocaram, ao de leve os seus lábios húmidos.
Desceu as mãos até aos primeiros botões da sua blusa e descasou-os.
Uma a uma, com a precisão de um bisturi, afastou as metades da blusa e ficou com o seu peito quase nu frente ao seu.
Abraçou-a com ternura e soltou-lhe as amarras do soutien sentindo o toque mágico do encontro dos seus peitos.
Estavam numa outra dimensão.
As mãos estão agora a descer ás ancas, a afagarem as nádegas, a misturarem-se na ganga.
Deitou-se sobre o leito, em câmara lenta, fotograma a fotograma.
Beijou-a de novo, agora nos mamilos rijos que antes lhe pressionavam o peito e dificultavam a respiração.
De longe sentiu a sua respiração tornar-se mais audível e ofegante.
Os seus lábios corriam pela pele abaixo da esquerda para a direita da direita para o centro perdendo-se a contornar o umbigo.
Primeiro o fecho eclair da ganga, depois a própria ganga, desceram com o seu corpo e caíram bruscamente no chão. De onde partiram de novo os seus lábios que de pé em pé subiram pelas pernas, primeiro uma depois outra.
Sentiu que o corpo desta mulher se mexia e remexia, contornado o prazer e o alucinante prazer que esta paixão lhe provocava.
Quase nus, e ainda de olhos fechados, uniram os corpos.
Havia ainda umas cuecas para arrancar, uma cama para rebolar um amor por concluir.
De repente colocou-lhe a mão no centro do peito e chorou.
Era ali que o seu amor crescia, no coração da sua amada que batia descontrolado e crescia de intensidade.
Beijou-o uma e muitas vezes.
Segredou-lhe que a sua beleza interna não seria nunca superada pela paixão da carne e deixou que a sua mão se afogasse na sua intimidade captando gemidos cada vez mais cadenciados.
Já completamente nus penetrou a sua alma e ejaculou vida no seu útero.
Beijou-lhe agora os grossos lábios, sugou-lhe o clítoris e gritou amor em palavras.
Limparam as gostas do suor da carne, embrulharam-se em lençóis de cetim e ficaram num corpo só, dormitando sobre a fé de um futuro infinito.

Quando abriram os olhos estavam ainda deitados na relva, frente ao rio, a falar do amor impossível, do futuro finito e da impossibilidade de viajar no tempo e alterar a ordem da criação.
Magoava-os o impossível.
Lacerados viraram as costas, e gravaram nas nuvens o amor que a carne jamais saberia.
Há momentos em que as almas se divertem a brincar ás pessoas!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Orgulho


Orgulho-me de tudo o que fiz por amor, paixão ou ardor.
Tudo o resto, não fiz!
Violei códigos e convenções, segui luzes, estrelas ou cegueiras,
E nunca guiões ou cartilhas.
Vi o sol na noite e amanheci na sombra da lua
Soltei gritos de silêncio e explosivos sussurros de prazer.
Em tudo o mais não há registos ou traços!
A minha unidade é o momento. Cada um e todos.
Todos ímpares, primos, inigualáveis, únicos, meus!
Jamais construi só!
A memoria é uma miragem colectiva.
O orgulho é substantivo e nuclear.
Explode momento a momento!

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tremor


Segurem-me estou inquieto
o meu sangue congelado estremeceu
gemeu e estava mudo, depois arfou
olhou para ela e sossegou
já descongelado

Estou inquieto porque o vento deixou de ser de ar
é corpo de mulher e nunca pára de invadir
de corroer, de frestas abrir, de velho e novo me fazer
e penetrar

Estou inquieto porque o tempo que era feito de segundos
pára agora uma vez por segundo e a seguir repara
no segundo anterior ao que se segue até perder as regras
e deixar de ter tempo para ser tempo: o tempo passou
a ser mulher

E ela, que nem sequer tem tempo para existir tão fundo
como eu a existo a ela sem fundo de tempo
arrancou-me todos os tampos e estou descoberto,
estou esventrado, estou esfolado e de carnes e tripas à mostra
e quero esconder-me e não consigo, porque a mulher me mostrou.

E se estou inquieto é porque apenas me interrogo
será possível encontrar paz nesta inquietude?
Sou já tão velho, não faz sentido, nada no meu corpo condiz
com o que o meu corpo sente, que não abrange muito para além
dos meus vinte anos de carne, quando a carne era fresca
e a mulher estava longe e eu me divertia a amar raparigas
belas, cheirosas e bonitas, apetitosas e catitas, enfim,
todo o contrário daquilo que agora esta inquietação traz a mim.

Por isso peço às pedras, e aos ribeiros, e às arvores
e sobretudo aos pássaros que me impeçam de voar
acho que esta inquietação pode matar e estou tão vivo
seria pleonasmo, ou no mínimo a mais estúpida contradição

É que ela é bela, e eu estou lúcido, e simplesmente inquieto,
pois assustado com o meu sangue já em lava,
com o meu coração já parvamente vulcão,
com o meu sexo já automático, logo a seguir ao estágio
na oficina onde esteve em revisão

E estou inquieto, porque a mulher está longe,
e eu perto, e o céu está debaixo dos meus pés,
e no entanto nada voa porque merda, porque crueldade,
porque tudo é tanto e tanto é tão difícil, então
socorro, alguém me ponha os pés no chão

Estou inquieto, estou aberto, estou trancado e arrombado
o vento entrou e se fez fêmea no macho que trago a tiracolo
eu que de machos nada entendo e de fêmeas nunca aprendo
o essencial que é esperar que o vento amaine, eu sobressaltado,
assaltado por amor, estripado por feridas que não mais sararão.

Estou doente, estou tão lúcido, não é que o vento me sacuda
é o sangue que me envenena já, e se eu morrer que seja lenta
a morte com que agora vejo o mundo por esta lente
que me inquieta me descongela me obriga a ao mundo inteiro abraçar
pois já parti, já sou amante, já nela me consumi, já fervo como diamante
e a mim próprio frente ao vento jurei tudo lapidar.

Por isso peço se ainda algures alguém me ouvir:
falta-me o mergulho. Tragam-me o mar.

Manuel Cintra, 9 de Julho de 2009.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Esperança


Sei que não passa de uma imagem.
O verde que o longe me mostra, é agua, apenas agua.
O seu fundo de algas a a profundidade da visão é que me constroi o verde na alma.
Aqueles que se debruçam sobre a água,numa atitude de submissão a tanta beleza, são árvores de copa baixa, verde, dobradas pelo vento. E não se fundem. Não são verdes diferentes.
Talvez por isso quando reparo nos teus olhos os não vejo reflectidos. São um outro tipo de verde.
Mas nos teus olhos vejo lagoas, maiores ainda que estas, mais profundas, mais contempladas, mais frescas e mais doces.
Nos teus olhos vejo-me de negro, fugindo de tanta esperança.
A minha esperança acaba de morrer afogada em mim.
O que a minha alma sente, dobrada sobre ti, submissa á tua vontade, é que não passas de uma distante imagem, que a minha vista pensa existir.´
Não há mais esperança no verde dos teus olhos, que a minha alma morre afoga em ti.

domingo, 7 de junho de 2009

Silêncio!


Silêncio!
Vejo pelo ecrã do televisor do metro as formigas de todos os dias a correrem de dentro para fora e de fora para dentro num frenesim louco para a tortura diária do trabalho, da tarefa, da obrigação, do social.
Em silêncio!
Vejo os carros rodarem entre si nas rotundas que fazem circular as cidades, formigas de todos os dias, de cá para lá, ou para lado nenhum, circulando apenas que parar pode ser fatal.
E fico em silêncio!
Vejo do parapeito da minha janela, aviões que aterram e outros que levantam, carregados de formigas de todos os dias, a caminho de algures ou vindo de qualquer lado, fazendo vidas distantes ansiosos de viverem por perto.
E silêncio o olhar!
Caminho nos passeios da cidade, em gincanas entre formigas de todos os dias, em contramão fugindo do cu do funil, ou correndo para a boca da corrente.
E silencio o meu choro!

Tenho saudades das alturas!
Tenho saudades dos beijos nas nuvens!
Tenho saudades das águas cristalinas que descem a montanha aos sons celestiais.
Tenho saudades dos amenos ventos que rodopiam os corpos e levam as seivas para as férteis terras longínquas.
Tenho saudade dos gritos do amor.
Tenho saudades do semicerrar dos olhos na esperança de ao abri-los tudo ser verdade!

Tenho uma ensurdecedora e gritante ansiedade de sair deste silêncio!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Intelecto


Deixa. Deixa que os meus lábios sejam suaves penas que percorrem o teu corpo como as aves fazem aos seus filhos, carregadas de ternura, carinho e amor.
Deixa.
Deixa-me humidificar o teu pescoço com lágrimas que quero sussurrar no teu ouvido.
Deixa que beije as tuas mamas, as pressione, que quero chamar-te mulher e gritar que te amo enquanto soltas tímidos suspiros que o corpo te obriga a sentir. Deixa.
Deixa o teu ventre ser colo. Deixa a minha face enrugada descansar, aí, onde a vida começa.
A minha língua desobedece-me e quer correr as curvas da tua cinta.
Sentir os teus rins a purificar.
Se deixas, percorro os lábios do teu sexo, fundo a minha alma com o teu prazer, gemo por ti no prazer do amor e na fé do orgasmo.
As minhas mãos querem empurrar as tuas nádegas contra mim.
Quero sentir-te mulher em mim e ser ideia e nunca corpo no teu espasmo.
Deixa.

Sairei de ti e farei amor contigo, escondido num recôndito lugar, para que não vejas as minhas lágrimas a saltarem-me do corpo, enquanto me castigo mecanicamente até a minha seiva saltar no tempo e castigar-me de ser velho, enrugado e seco, de ser morto antes do tempo.

Ou então não deixes. Mas mostra-me o brilho dos teus olhos. Mostra-me o traço do teu sorriso e dá-me a mão no leito final, para chegar ao destino consciente de que deixara o paraíso em ti e não na ideia do futuro que não soube desenhar para ti

Banhada Didgital!


Tenho o amor na ponta dos dedos.
Deslizo pelo seu couro cabeludo, misturando a água com o shampô e amacio o seu cabelo, tocando-lhe ao de leve nas orelhas, ou no pescoço.
Os olhos semi serrados não me enganam. Pensa em tudo o que lhe faça sorrir, menos neste momento.
Com os dedos zangados, percorro-lhe o trapézio e todos os outros músculos das costas. A gordura do gel de banho cumpre o papel de hidratante e os meus dedos, mágicos, vejo-o no ceder do seu sorriso, os meus dedos cravam-se na carne e repõem a elasticidade aos tecidos.
A água escorre-lhe pelo corpo como o seu sorriso pela minha alma.
Ali está o corpo que abriga suavidade e medo, firmeza e dor, sonho e hesitação, lucidez e erro, vontade e desilusão. Um corpo de alma inteira.
Percorro-lhe as pernas, subindo firme na força e determinação, repondo energia e colhendo vontade.
Ponho-me entre a carne e a água para deslizar no seu peito, nu de sexo e pleno de feminilidade, de instinto e de paixão.
Toco-lhe os lábios com a minha sede e acaricio-lhe o sexo num suave movimento de pura limpeza vazio de emoção.
Colamos os corpos por milésimos de segundos. Tempo de mais para que viaje para longínquas paragens de outrora.
Busco sussurros de amor que ouvira e gemidos suaves, quase mudos, que me oferecera então.
O vapor do banho turva o futuro e morrem afogados em sabão, os beijos sôfregos que guardara para o momento.
Passou-me, de repente pelo vidro que me separa da realidade, a imagem do eterno em forma de gente que ejaculo virtualmente para o seu colo.

Puxo a toalha e seco as minhas lágrimas de saudade.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


Passa o tempo, atleta de fundo, em esforço e com marcas do sofrimento dos treinos.
Mudo agora de dimensão. Regresso ao escuro do tunel sem fim.
Não belisquei um pedaço que fosse da personalidade que preservo. Mas perdi. Perdi de novo a visão da luz tenue que o Túnel me oferecia.
Não sei para onde vou, mas sei que por aí não.
Falta-me o carinho a ternura e a macieza de um beijo e abraço e suspiro...falta-me a palavra amor sussurrada entre prazeres. Falta-me o toque nas entranhas da loucura. Falta-me a felicidade proibida dos espasmos do amor. faltas-me tu que estas sempre presente e longe.
Voltaria a uma dimensão antiga se o antigo não tivesse bolor e bafiasse.