sábado, 29 de novembro de 2008


Sou único!
Indispensável!
Tão único e indispensável como todos os outros nicks que a internet trás de um mundo onde as emoções são digitais, pixeladas, deletaveis, fotoshopaveis, assexuadas, travestidas, transexuais...
Gastamos palavras no msn que não usamos na vida real.
Na realidade já não há palavras que possamos usar, pois não há mais vida que seja real.
Quero-te, não é mais que a viagem deste mundo de números para o real, e esbarra em perigos e ansiedades.
Da janela de onde espreito estas emoticonsionais vejo um ruído brutal de falsos amores e de quentes orgasmos masturbados entre as teclas o rato e a webcam.
E as vidas correm-nos como filmes, de enredos cruzados que realizamos com actores baratos e distantes, mal pagos, mas de facturas elevadas.
Sou único, ou única, consoante o interlocutor.
Mas esta vida que esboço é absolutamente dispensável.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008


Implantou-se de forma brusca, sem dor.
Tomou-me conta das cores e afectou radicalmente o meu termóstato.
Alterou-me o ritmo cardíaco e tomou posse da minha vontade.
Suou-me os dedos, as mãos, o corpo e afogou a minha alma em êxtase.
Reforçou-me os sentidos, mas exacerbou-me a saudade.
A máquina humana é hoje outra. Perdi o domínio do sono e os sonhos surgem mistificados de realidades boas demais, incríveis, e impossíveis.
Tento fundir a carne, tanto quanto a alma, e vejo o meu corpo a mutar-se em espasmos de prazer ou em dor de abstinência.
Aumenta o brilho dos meus olhos, e rasga-se a boca em permanente sorriso.
A mente brinca com o presente e desenha futuros de cores novas, que espantam qualquer arco íris.
O tempo voa. E torna-se longo e languinhento na sua ausência.
Os genes encavalitam-se na vontade de se misturar e dar corpo a estas almas fundidas.
As hormonas descontrolam-se e embaraçam.
Um beijo, um simples beijo, é, de repente, uma porta para viagens alucinantes através do espaço e do tempo.
Contraem-se os músculos num esforço de se encaixarem em outros e outros e ainda outros, em movimentos estranhos e confusos, silenciados aqui e ali, por um gemido mais fino, um suspiro mais forte ou um grito mais surdo.
O amor apodera-se de mim.

Soube agora, soube sempre, que o amor é infinito mas que morre.
Tenho câncer no amor!
Este volume todo que o meu corpo adquiriu, por ti, é benigno mas mata.
Sei que acaba, sei. Não quando, não como, mas acaba.
Não na forma mais bela que é esta que sinto sem ti.
Mas na comunhão e na partilha acaba, que o mundo também e eu certamente.
Tenho câncer no amor!
Sem datas, previsões, sem curas, ou correcções, tenho câncer no amor!

E ficarei mais morto que antes de te viver
Ficarei mais pobre que antes de me enriqueceres
Ficarei mais magro de tanto crescer
Ficarei mais só, que único.
Ficarei!

E, lá do alto, ondo moram os amores que perecem de câncer, lá do alto, farei que cresçam outros amores no tu corpo, outros genes e hormonas, calores e transpirações, ritmos cardíacos e ofegantes, farei…

Que o amor não morre, apenas se transforma.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008


O Manuel é um domador de palavras.
Faz-me pequeno, e cresço lendo-o.
Desfia relações em exercícios, e descreve emoções em figuras de choque, as que têm mais estilo.
Ouço as suas mãos tremendo pelo esforço de segurar os livros onde se guarda.
Babilónico corre o mundo connosco, de primavera em primavera, até aos Invernos de cada um, decalcados dos seus, em vegetal.
Todas as vidas têm errata, e a do Manuel está no nome, que me vez de Cintra deveria ser Sintra pelo sentimento que o s carrega.
Para as demais erratas, ele, como todos nós, lá vai comprando corrector.
Não sabemos nada um do outro…nem pensamos nisso.
Mas sei que o Manuel grita e ele sabe que eu oiço.
Não sabe o Manuel que o que escreve eu também já vivi.
Não sabe que o que eu hei-de viver, ele também já escreveu.
Não sabe que as contas dos seus rosários são gramaticais, mas que ao ser lidas se tornam matematicamente reprodutoras.
È arriscado dizer a importância do Manuel usando as suas armas. Perdemos, e perde ele pela limitação da descrição.

Manuel vive! Manuel vive muito que quero ler o que sinto!

quinta-feira, 13 de novembro de 2008


Fechou os olhos. Quando os abriu era maior!
A fusão dos seus corpos, mesmo que apenas mecânica, era o principio.
Nada seria como antes. Nada.
A cumplicidade e o segredo do momento seria eterna.
Seria bóia para o ultimo reduto da vida
Manteria o que ambos tinham de melhor ate terem melhor para manter o futuro.
Como bichos fizeram a combustão dos genes. Como almas a explosão das estrelas.

Testemunharam as gotas de suor espalhadas pelo leito.
Resíduos tóxicos de amor liquido e vapores loucos de ofegante respirar.

No paraíso, sim existe, estive lá, no paraíso é assim. As águias namoram com os pintassilgos e os leões entrelaçam as patas com as lebres. Os nenúfares cobrem as margaridas e os castanheiros estão carregados de amoras.
A água desliza sobre a terra humidificando-a e fazendo brotar botões de rosa no deserto.
Os Vulcões expelem polém.
Caminha-se sobre as águas e os peixes falam do por do sol.

Algures entre isto e a realidade há um grito surdo de prazer, enroscado num peça de roupa atirada ao acaso.

Não é possível olhar em frente sem sentir que esteja lá, que o vazio é mesmo aqui!

quarta-feira, 12 de novembro de 2008


Hoje sou vento.
Vou livre em frente. Os obstáculos mudam-me a direcção, mas não a meta.
Vezes sem conta que me enfureço para os contornar.
E outras que danço, rodopio á sua volta e sugo-os no meu conte.
Mas outras sou brisa e refresco.
Vejo o mundo de cima, belo como é. O feio misturo-o com as folhas das arvores. Cinzento como se mostra trago-lhe agarrada a chuva e lavo-o tentando purificá-lo.
Hoje sou vento que uiva.
Levo nas nuvens que empurro noticias do sol.
Canto nas esquinas, vergo as arvores a beijarem a terra.
E tudo isto, de ser vento, pelo gozo indescritível de esvoaçar os teus cabelos.
Levantam-se em respeito por mim e mostram a tua pele de seda, os teus olhos de mar, o teu sorriso de flor de laranjeira.
Para ti, hoje é sempre. E eu serei vento

Toquei-lhe ao de leve com o indicador. Como se fosse um sinal. Uma varinha carregada de magia.
Foi assim que senti.
Focado na intenção do toque, tardei a perceber que a energia que me percorria era de uma suavidade que só conhecera em pétalas, ou nas carícias do mar quente do indico.
Toque com toque.
Percorri suavemente, ainda mais suavemente que antes, a textura da pele escondida na ganga até sentir o calor do forno da paixão. E parei. Apenas o movimento. Corri pelas veias em louca e desenfreada sensação que me trouxe ao rosto o vermelho da cumplicidade.
Sem que olhasse, vi o bafo quente da sua alma gravar no vidro um grito de prazer amordaçado pelo impacto da ousadia.
E fugi.
Fugi para as palavras que jamais explicariam o impulso e a loucura.
Parei. Parti.

Como as aves em migração senti que podia um lar. Mas segui a viagem com medo de não ser o ambiente da espécie, ou o ninho da minha alma.

Voltando terei abrigo?
Por magia, talvez.
Espero o sinal. Um indicador. Um toque.

Sou tear.
Puxo todos os finos fios das minhas relações, estico-os, e tento entrelaçá-los em desenhos soltos e abstractos.
Por vezes tinto os tecidos que produzo, na esperança de dar cor às relações que os construíram.
Mas não passam de panos que rompem com o tempo. E perdem cor com o sol.
Tecidos que não tapam os segredos. Roupas que não cobrem as carências.
Sou, só, tear.

terça-feira, 11 de novembro de 2008


Poesia. Mas o que é, afinal a poesia?
Será chamar oceano aos teus olhos, apenas porque são verdes e brilham quando o sol lhes bate?
Será chamar de infinita à sensação de te tocar, quando apenas é suavidade e ternura o que transmitem?
Será dizer que é sopro o que a tua fala produz em mim, quando apenas me segredas amor?
Será dizer que é grito a paixão que sinto por ti, quando não passa de cegueira pela ideia de morrer a teu lado?
Será morrer a teu lado, quando o orgasmo me toma conta dos sentidos, quando é apenas química levada ao máximo da combustão?
Será chorar quando choras, sendo apenas dor o que o provoca?
Será poesia calcar as marcas dos teus passos quando apenas quero seguir-te para não estar só e vazio?
Não, amiga.
Poesia é deitar-me com a esperança de acordar, por saber que te terei, e morrer dormindo se algum dia não estiveres!
Dizem que finjo ou minto
Tudo o que escrevo.
Não.Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê

Fernando Pessoa!