sexta-feira, 18 de março de 2011

A Minha Amiga Lenea

É indiferente escrever-te hoje ou mais tarde. Nunca deixarás de fazer parte dos meus amigos vivos, dos mais vivos.
Deram-me de ti as piores noticias. Quero tanto que pares de sofrer.
Nem fomos dos amigos mais frequentes. Nada disso. Fomos sempre, e apenas, amigos. Sempre disponíveis. Foste tu quem mais me puxou para o lado positivo da vida, quando insistia em estraga-la e deitar tudo a perder.
E ensinaste-me a lidar com a morte de uma forma ainda mais positiva
Quando o cancro tomou conta do teu corpo, a tua alma tornou-se enorme, e a tua sensibilidade fez de ti a salvadora dos que te amam. Sorriste e brincaste com todos.
Lembro-me de ir para a radioterapia contigo. Tremias com medo das noticias dos médicos, mas dizias na sala de espera que estavas a matar o bicho.
Sossegavas os teus, interrompias as lágrimas e largavas gargalhadas que abafavam as penas.
E tantas vezes depois, te vi, te soube, de corpo hirto e mão dada, aos que á tua volta sofriam desaires e outras chatices. Tu sempre positiva e esperançosa ralhavas aos que ameaçavam desistir.
És a maior mulher que eu conheci. Única.
E és uma mãe imensa e infinita.
Não vais, querida amiga, não vais a lado nenhum. Ficas em cada um de nós como um símbolo, um emblema que trazemos junto ao coração. Serás um estandarte que voará aos ventos em todas as romarias.
Não vou ver-te antes da tua viagem. E escrevo com lágrimas este ultimo texto. A ultima vez que estivemos juntos, ouvíamos na televisão o António Feio falar do combate dele. Não consegui evitar sentir que falava do teu. E chorei. Tu não. Tu viste ali mais um que mataria o bicho.
Acredito que irás para um sitio mais belo do que a poesia.
Aí, aqui, então ou agora, eu estarei sempre do teu lado. E sei que farás o mesmo.
Obrigado por teres dado muito da tua vida para que eu soubesse amar a minha.

1 comentário:

Daniela Pimentel disse...

Não sei explicar o sentimento que tomou o meu corpo quando li estes versos. Conhecia a Lenea (era vizinha) e sempre lhe disse que era a mulher com mais força que alguma vez iria conhecer! Ela não partiu...ela estará sempre presente! Ainda me recordo do som das gargalhadas dela....